quinta-feira, 29 de julho de 2021

O ROUBO DOS 107 CONTOS DE RÉIS

 


Em junho de 1913, houve o caso de uma dupla de arrombadores estrangeiros que agiram na cidade que foi muito comentado na época. O alemão Henrique Brunner e o mexicano Emilio Zaneti chegaram à cidade, se hospedaram no Hotel Internacional – na Avenida Tavares de Lyra – e de lá saiam tranquilamente pelas ruas, conhecendo os recantos e transmitindo muita simpatia na sua língua arrevesada.

Diziam serem comerciantes, onde buscavam fazer amizades para abrir um negócio na cidade. Entre os novos amigos, os gringos travaram contato com Olivar Von Sohsten, caixa da casa comercial de Julius Von Sohsten, uma das maiores da cidade na época. Os meliantes descobriram onde o funcionário morava e na noite de 10 de junho entraram na sua casa e furtaram as chaves da casa comercial. A firma ficava na Rua do Comércio (atual Rua Chile), onde a dupla agiu tranquilamente.

Pela manhã foi descoberto o roubo de 107 contos de réis, uma verdadeira fortuna para época. A cidade parou, uma multidão esteve na casa comercial, até mesmo o governador Alberto Maranhão foi ao local. O Chefe de Polícia, Joaquim Soares Raposo da Câmara, juntamente com a participação do tenente João Fernandes de Almeida, conhecido como “Joca do Pará” iniciou as investigações.

“Joca do Pará” era uma verdadeira “lenda” dentro da PM potiguar, e logo pôs os olhos sobre os estrangeiros. Utilizando paciência e astúcia, conseguiu pegar o rastro dos meliantes que, apertados pelo policial, confessaram o roubo. Segundo os jornais, depois de retirarem o dinheiro, os dois ladrões foram para a “floresta negra do Monte Petrópolis”, então um local ermo e pouco habitado, onde enterraram a fortuna em um vaso de ágata. Brunner e Zaneti já eram fugitivos da polícia do Rio de Janeiro, onde aplicaram o mesmo tipo de golpe. “Joca do Pará” possuía uma determinação que granjeou respeito dos seus comandados, onde galgou o posto de capitão e chegou a comandar o esquadrão de cavalaria da polícia

Apesar de todo o empenho da polícia, em novembro do mesmo ano Brunner e Zaneti fugiram da penitenciária de Petrópolis, mas foram capturados três dias depois nas matas das “Quintas”, por dois caçadores, que rapidamente se tornaram os heróis da cidade.

Articulista de “A Republica”, na edição de 12 de novembro de 1913, comenta a impressão que causou o retorno destes dois marginais a penitenciária. Os dois estrangeiros caminharam desde as “Quintas”, acompanhados de uma escolta policial e uma grande multidão. Eles seguiam amarrados, de cabeça baixa, com chapéus de palha, roupas de algodão grosseiro e alpercatas de couro, o traje dos prisioneiros na época. Considerados de “extremo perigo”, a sua recaptura causou alívio na cidade.

O astucioso “Pedro Gato”

Durante um bom tempo o “terror da cidade” de Natal era um sujeito chamado Pedro Ignácio, um arrombador que era conhecido como “Pedro Gato”. Ele foi uma verdadeira “sensação” na sua época. Diz-se que ele nasceu em Natal, era morador nas Rocas, e era filho de pescador, tendo ficado famoso pela astúcia e destreza na forma como entrava nas casas das pessoas mais ricas.

O homem também era conhecido como “Pedro Melado”, isso porque diziam que escapava das casas pelos lugares mais difíceis como se estivesse “bezuntado” de mel. A ação de crimes de “Pedro Gato” foi desbaratada em 1916 pelo mesmo infatigável e competente “Joca do Pará”.

“Pedro Gato” foi condenado a 10 anos de prisão e sua “carreira profissional” parecia ter chegado ao fim. Mas a sua história ainda não havia terminado. Segundo o jornal “A Notícia”, de 16 de julho de 1921, “Pedro Gato”, mesmo estando trancafiado, havia voltado ao crime, e desta vez havia montado uma equipe.

Com apoio de um sargento, um soldado e um carcereiro da penitenciária “Pedro Gato” saia na calada da noite e agia com a mesma “qualidade no serviço”. Infelizmente este tipo de coisa ainda acontece. Desta vez, entre as casas “visitadas” por Pedro, estava a do comerciante Francisco Cascudo, pai do maior folclorista brasileiro Câmara Cascudo, que teve subtraído de sua residência um relógio de ouro.

Outra residência assaltada foi a do engenheiro Eduardo Parisot, então chefe do distrito de Obras Contra as Secas. O jornal comenta que durante seu depoimento ao delegado, chamou a atenção o “cinismo revoltante” como “Pedro Gato” respondia as perguntas.

Diante das declarações de “Pedro Gato”, chama a atenção à ação enérgica do então Chefe de Polícia na época, Sebastião Fernandes de Oliveira, que ordenou a abertura de inquéritos e apuração rigorosa dos fatos. Algum tempo depois os jornais apontam que os militares foram expulsos da polícia e o carcereiro sumariamente demitido.

Os ladrões que foram pegos roubando a casa do delegado

Em 1932 ouve um caso que chama a atenção pelo ridículo de como dois marginais foram descobertos e a polícia conseguiu debelar uma série de furtos e roubos praticados na calada da noite. Segundo a edição de “A Republica”, de 3 de agosto, dois dias antes, Manoel Pereira de Lima, o perigoso “Manoel Jucá”, acompanhado de outro homem chamado “Manoel Belo”, foram presos ao entrarem em uma residência para roubá-la.

Só que havia um “pequeno problema” nesta empreitada dos dois: a casa pertencia ao tenente Abílio Campos, então delegado do 1º distrito policial da cidade. O tenente Abílio reagiu atirando na dupla, que escapuliu. O militar então passou a persegui-los junto com a patrulha noturna e conseguiram capturá-los às 6h no bairro Passo da Pátria. “Manoel Jucá” reagiu à prisão e acabou hospitalizado no Juvino Barreto, o hospital de referência da época que depois virou asilo de idosos.


TENENTE ABÍLIO CAMPOS

O interessante é que naquele ano Natal tinha pouco mais de 45 mil habitantes e apenas cinco bairros. Mesmo assim, os dois “gatunos” foram justamente roubar a casa do delegado. Nesta foto acima, mesmo sem confirmação, estaria o aspecto típico do uniforme do policial militar na década de 1930 no Rio Grande do Norte. Muito marcial, mas de eficiência duvidosa.

Nesta mesma reportagem, entre os objetos utilizados pela dupla não há materiais que seriam típicos de arrombadores, mas uma lista de ferramentas que mais parecem de um marceneiro. Havia um serrote, uma plaina, três chaves de fenda, uma talhadeira e uma marreta. Fica então a pergunta: como é que esta dupla adentrava nas casas com este maquinário e saia sem serem ouvidos?

Outro ponto que chama a atenção no caso destes dois “perigosos ladrões”, como o jornal os definia, foi à relação de produtos encontrados com a concubina de Manoel Jucá. Estavam listados: muitas roupas, oito baralhos, onze aparelhos de barbear, duas “cuecas de bramante”, um guarda-chuva, uma escova de dente e outras tantas quinquilharias. De objetos de luxo e dinheiro, apenas dois relógios, duas correntes de ouro e 25$600 (vinte e cinco mil e seiscentos réis). Parece que alguém já conhecia bem o conceito de ostentação, hein?

Em seus esclarecimentos, os bandidos comentaram ao tenente Abílio que revendiam todos os objetos para os mais pobres, e que não faltavam fregueses. Em 1932 o Brasil vivia uma acentuada crise política, econômica e social, e as ações da dupla abasteciam uma determinada parcela da sociedade de Natal, que vivia em grave estado de pobreza.

FONTE – CURIOZZO.COM

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