Em junho de 1913, houve o
caso de uma dupla de arrombadores estrangeiros que agiram na cidade que foi
muito comentado na época. O alemão Henrique Brunner e o mexicano Emilio Zaneti
chegaram à cidade, se hospedaram no Hotel Internacional – na Avenida Tavares de
Lyra – e de lá saiam tranquilamente pelas ruas, conhecendo os recantos e
transmitindo muita simpatia na sua língua arrevesada.
Diziam serem comerciantes,
onde buscavam fazer amizades para abrir um negócio na cidade. Entre os novos
amigos, os gringos travaram contato com Olivar Von Sohsten, caixa da casa
comercial de Julius Von Sohsten, uma das maiores da cidade na época. Os
meliantes descobriram onde o funcionário morava e na noite de 10 de junho
entraram na sua casa e furtaram as chaves da casa comercial. A firma ficava na
Rua do Comércio (atual Rua Chile), onde a dupla agiu tranquilamente.
Pela
manhã foi descoberto o roubo de 107 contos de réis, uma verdadeira fortuna para
época. A cidade parou, uma multidão esteve na casa comercial, até mesmo o
governador Alberto Maranhão foi ao local. O Chefe de Polícia, Joaquim Soares
Raposo da Câmara, juntamente com a participação do tenente João Fernandes de
Almeida, conhecido como “Joca do Pará” iniciou as investigações.
“Joca do Pará” era uma verdadeira “lenda” dentro da PM potiguar, e logo
pôs os olhos sobre os estrangeiros. Utilizando paciência e astúcia, conseguiu
pegar o rastro dos meliantes que, apertados pelo policial, confessaram o roubo.
Segundo os jornais, depois de retirarem o dinheiro, os dois ladrões foram para
a “floresta negra do Monte Petrópolis”, então um local ermo e pouco habitado,
onde enterraram a fortuna em um vaso de ágata. Brunner e Zaneti já eram
fugitivos da polícia do Rio de Janeiro, onde aplicaram o mesmo tipo de golpe.
“Joca do Pará” possuía uma determinação que granjeou respeito dos seus comandados,
onde galgou o posto de capitão e chegou a comandar o esquadrão de cavalaria da
polícia
Apesar
de todo o empenho da polícia, em novembro do mesmo ano Brunner e Zaneti fugiram
da penitenciária de Petrópolis, mas foram capturados três dias depois nas matas
das “Quintas”, por dois caçadores, que rapidamente se tornaram os heróis da
cidade.
Articulista de “A Republica”, na edição de 12 de novembro de 1913,
comenta a impressão que causou o retorno destes dois marginais a penitenciária.
Os dois estrangeiros caminharam desde as “Quintas”, acompanhados de uma escolta
policial e uma grande multidão. Eles seguiam amarrados, de cabeça baixa, com
chapéus de palha, roupas de algodão grosseiro e alpercatas de couro, o traje
dos prisioneiros na época. Considerados de “extremo perigo”, a sua recaptura
causou alívio na cidade.
O astucioso “Pedro Gato”
Durante um bom tempo o “terror da cidade” de Natal era um sujeito chamado
Pedro Ignácio, um arrombador que era conhecido como “Pedro
Gato”. Ele foi uma verdadeira “sensação” na sua época. Diz-se
que ele nasceu em Natal, era morador nas Rocas, e era filho de pescador, tendo
ficado famoso pela astúcia e destreza na forma como entrava nas casas das
pessoas mais ricas.
O
homem também era conhecido como “Pedro Melado”, isso porque diziam que escapava
das casas pelos lugares mais difíceis como se estivesse “bezuntado” de mel. A
ação de crimes de “Pedro Gato” foi desbaratada em 1916 pelo mesmo infatigável e
competente “Joca do Pará”.
“Pedro Gato” foi condenado a 10 anos de prisão e sua “carreira
profissional” parecia ter chegado ao fim. Mas a sua história ainda não havia
terminado. Segundo o jornal “A Notícia”, de 16 de julho de 1921, “Pedro Gato”,
mesmo estando trancafiado, havia voltado ao crime, e desta vez havia montado
uma equipe.
Com
apoio de um sargento, um soldado e um carcereiro da penitenciária “Pedro Gato”
saia na calada da noite e agia com a mesma “qualidade no serviço”. Infelizmente
este tipo de coisa ainda acontece. Desta vez, entre as casas “visitadas” por
Pedro, estava a do comerciante Francisco Cascudo, pai do maior folclorista
brasileiro Câmara Cascudo, que teve subtraído de sua residência um relógio de
ouro.
Outra residência assaltada foi a do engenheiro Eduardo Parisot, então
chefe do distrito de Obras Contra as Secas. O jornal comenta que durante seu
depoimento ao delegado, chamou a atenção o “cinismo revoltante” como “Pedro
Gato” respondia as perguntas.
Diante das declarações de “Pedro Gato”, chama a atenção à ação enérgica
do então Chefe de Polícia na época, Sebastião Fernandes de Oliveira, que
ordenou a abertura de inquéritos e apuração rigorosa dos fatos. Algum tempo
depois os jornais apontam que os militares foram expulsos da polícia e o
carcereiro sumariamente demitido.
Os ladrões que foram pegos roubando a casa do
delegado
Em 1932 ouve um caso que chama a atenção pelo ridículo de como dois
marginais foram descobertos e a polícia conseguiu debelar uma série de furtos e
roubos praticados na calada da noite. Segundo a edição de “A Republica”, de 3
de agosto, dois dias antes, Manoel Pereira de Lima, o perigoso “Manoel
Jucá”, acompanhado de outro homem chamado “Manoel Belo”, foram
presos ao entrarem em uma residência para roubá-la.
Só que havia um “pequeno problema” nesta empreitada dos dois: a casa
pertencia ao tenente Abílio Campos, então delegado do 1º distrito policial da
cidade. O tenente Abílio reagiu atirando na dupla, que escapuliu. O militar
então passou a persegui-los junto com a patrulha noturna e conseguiram
capturá-los às 6h no bairro Passo da Pátria. “Manoel Jucá” reagiu à prisão e
acabou hospitalizado no Juvino Barreto, o hospital de referência da época que
depois virou asilo de idosos.
TENENTE ABÍLIO CAMPOS
O
interessante é que naquele ano Natal tinha pouco mais de 45 mil habitantes e
apenas cinco bairros. Mesmo assim, os dois “gatunos” foram justamente roubar a
casa do delegado. Nesta foto acima, mesmo sem confirmação, estaria o aspecto
típico do uniforme do policial militar na década de 1930 no Rio Grande do Norte.
Muito marcial, mas de eficiência duvidosa.
Nesta mesma reportagem, entre os objetos utilizados pela dupla não há
materiais que seriam típicos de arrombadores, mas uma lista de ferramentas que
mais parecem de um marceneiro. Havia um serrote, uma plaina, três chaves de
fenda, uma talhadeira e uma marreta. Fica então a pergunta: como é que esta
dupla adentrava nas casas com este maquinário e saia sem serem ouvidos?
Outro
ponto que chama a atenção no caso destes dois “perigosos ladrões”, como o
jornal os definia, foi à relação de produtos encontrados com a concubina de
Manoel Jucá. Estavam listados: muitas roupas, oito baralhos, onze aparelhos de
barbear, duas “cuecas de bramante”, um guarda-chuva, uma escova de dente e
outras tantas quinquilharias. De objetos de luxo e dinheiro, apenas dois
relógios, duas correntes de ouro e 25$600 (vinte e cinco mil e seiscentos
réis). Parece que alguém já conhecia bem o conceito de ostentação, hein?
Em seus esclarecimentos, os bandidos comentaram ao tenente Abílio que
revendiam todos os objetos para os mais pobres, e que não faltavam fregueses.
Em 1932 o Brasil vivia uma acentuada crise política, econômica e social, e as
ações da dupla abasteciam uma determinada parcela da sociedade de Natal, que
vivia em grave estado de pobreza.
FONTE – CURIOZZO.COM